Cursos de Inglês no Brasil: O Caos?

Já escrevi inúmeros textos aqui no site sobre cursos de inglês no Brasil. Na maioria das vezes, os textos geraram certas insatisfações: tem gente que se incomoda. Por causa das confusões e mal-entendidos, prometi nunca mais escrever sobre cursos de inglês no Brasil aqui no Inglês na Ponta da Língua. Mas, após ler algumas reportagens recentes, não me contive e estou quebrando minha promessa.

A primeira reportagem que me deixou insatisfeito foi uma publicada em O Globo. Nela havia um infográfico mostrando as 10 profissões em alta que não exigem curso superior. Nela encontramos a primeira profissão: professor de idiomas. No infográfico encontrávamos ainda o seguinte:

Ter um bom conhecimento e fluência no idioma é básico e, neste caso, vale mais do que um diploma de graduação. Ex-alunos de cursos de língua estrangeira, que tenham feito teste de proficiência ou estrangeiros que estejam morando no país estão aptos a dar aulas, tanto em escolas de idiomas, empresas ou em casa.

Essa crença de que qualquer um pode dar aulas de inglês (basta saber falar a língua um pouco melhor que todo mundo), fez os curso de inglês no Brasil proliferarem. Afinal, ao contrário do que a maioria pensa, não há em nosso país um órgão que regulamente, fiscalize, estabeleça critérios para esses cursos. Ou seja, cada um faz o que bem quer. Assim, os maus profissionais acompanhado de alguns caras espertos e com dinheiro no bolso, abrem escolas praticamente da noite para o dia.

Cursos de Inglês no BrasilNos últimos sete anos, o aumento do número de escolas de idiomas no Brasil foi de 88%. Esse número engloba apenas as franquias. Portanto, se formos avaliar tudo o aumento pode ser bem maior. O crescimento desenfreado se deve a alguns fatores chaves:

  1. Crescimento econômico do Brasil;
  2. Classe média com mais poder de gasto e investimento;
  3. Exigência do mercado de trabalho;
  4. Realização de grandes eventos internacionais no país;
  5. Falta de fiscalização e exigências padrões para que uma escola de idiomas funcione.

Você deve estar se perguntando: Como é que não tem fiscalização? As escolas dão certificados? Tem uma aqui na minha cidade que até diz ser reconhecida pelo MEC?

É aí que entra outra reportagem muito interessante que li. Esta vem do Correio Braziliense. No qual foi publicado, em 18 de março de 2013, uma matéria com o título “Cursos de Inglês Fora de Controle”. A autora Grasielle Castro foi simplesmente brilhante. Alguns trechos que me chamaram a atenção foram:

  • Sem fiscalização, empresas prometem milagre na disputa por clientes.
  • A legislação brasileira estabelece que os cursos de treinamento e de educação são apenas para aperfeiçoamento e atualização do trabalhador, sem prever critérios mínimos de qualidade e necessidade de credenciamento. Muitas deles não exigem pré-requisitos na formação dos professores, não têm infraestrutura, critérios pedagógicos e nem oferecem material didático de qualidade.
  • Por serem livres, é vetada a emissão de diplomas. Também não há necessidade de autorização para funcionamento nem de reconhecimento do Conselho Nacional de Educação.
  • Como não há fiscalização do Ministério ou da Secretaria de Educação para abrir uma escola, qualquer um pode ser professor.

Vale dizer aqui que há apenas algumas coisas que são regulamentadas dentro das escolas de idiomas: a abertura da empresa e as finanças da mesma (para isso contrata-se um contador), os contratos para amarrar bem o cliente/aluno e deixá-lo sem saída caso ele queira parar o curso (para isso contratam-se advogados). Portanto, a parte do dinheiro é controlada. Afinal, os lucros e os impostos precisam ser bem cuidados e garantidos. Já o perfil pedagógico que “se dane, as pessoas não se importarão desde que achem que estejam aprendendo algo a mais que o verbo to be” (foi isso o que me disse um dono de escola certa vez!).

Confesso que eu gostaria de escrever mais sobre isso, mas não dá. É muito complicado. Mas, leia os textos dos links abaixo para saber o que já andei escrevendo sobre os cursos de inglês no Brasil. Por fim, lembre-se que há no Brasil cursos excelentes, bons, médios, ruins e péssimos. Infelizmente, os péssimos, ruins e médios são a maioria. Quem paga o preço por isso não é só você (cliente/aluno), mas também os cursos bons e excelentes que acabam sendo comparados de acordo com a maioria.

12 Comentários

  1. Sempre temos dificuldade em conseguir emprego os que já passaram dos 14 anos, os mais qualificados que o entrevistador e os mais experientes, quando deveria serw exatamente o contrário. Transformam, no Brasil, nossas qualidades em defeitos. O desemprego aumentou ainda mais agora com a argentina openenglish decretando que ningém deve ir a escolas e encher seus bolsos!

  2. Bom, acho que o Brasil ta cheio de problemas mais importantes para resolver, fiscalizar o ingles ensinado no Brasil seria de longe a ultima prioridade, claro eu entendo como um profissional da lingua inglesa o Denilso isto tudo deve incomoda-lo. Mas pra mim, tanto faz, odeio a lingua inglesa e acho que as pessoas so devem aprender mesmo o ingles, quando sao forcadas, tipo meu caso, que moro aqui e estudo aqui nos EUA, portanto sou obrigada a aprender, mas se tivesse no Brasil, nao tava nem ligando, nao sei porque tambem pessoas gastam horrores em cursos de ingles que nao servem pra nada. Tambem acho esse lance de ter que aprender ingles pra arrumar emprego, uma tremenda injustica. O ingles e a lingua da bagunca, um monte de palavras com escrita igual mas pronuncia diferentes ou vice verca. Sem falar nos tais phrasal verbs!!! Vixe!!! E como um jogo de advinhacao, voce tem que advinhar quando usar! Viva a lingua portuguesa!

    Admiro o Denilso e aprendi muito com ele.

  3. Eu concordo com você Denilso, mas tem outro detalhe: há inúmeros professores com formação universitária em letras que têm um inglês falado péssimo!! Sabem tudo de gramática, de pedagogia e tal, mas nem eles mesmos podem ser chamados de fluentes… É tudo bem complicado, mesmo, mas eu acredito que diploma não prova muito, não… Uma formação mais completa, ótima teoria e ótima prática seriam o ideal.

  4. Bem, como sou do ramo concordo com tudo o que você falou Denilso. Acho injusto que pessoas sem formação universitária possam exercer a mesma função e ganhar o mesmo que aquelas pessoas que ficaram quatro anos estudando para se profissionalizarem. Já vi cursos que diferenciam o salário dos professores e dos intrutores de línguas e já vi cursos que não diferenciam. Como fazer?
    Também já vi professores formados em faculdade de letras que tinham uma didática incrível e um inglês péssimo. E até aqueles com inglês péssimo e didática nem tão boa. E já vi professores maravilhosos, com didática, inglês perfeito e que não fizeram a faculdade. É uma questão muito complicada. Cabe ao dono/coordenador/diretor do curso saber escolher bem seus profissionais.

    Ouvi falar que aqui no RJ, haverá uma norma da secretaria de educação que diz que escolas ou cursos livre não poderão contratar profissionais sem formação universitária. Não sei se isso realmente irá acontecer, nem se eles farão uma fiscalização a respeito disso (provavelmente não), mas pode ser que caso haja, essa injustiça para com os profissionais formados diminua e as pessoas procurem mais as faculdades de letras (que tem cada vez menos alunos).

    Algo que me deixa sempre muito indignada é ouvir de alunos as seguintes frases “Quando acabar o curso, vou dar aula de inglês para tirar um dinheirinho enquanto não arrumo coisa melhor.” ou então “Se tudo der errado, viro professor de inglês.”

    Ser professor hoje em dia não tem mais mérito algum.

  5. Existem muitos cursos ruins e realmente precisa de fiscalização…. Estou há 8 meses na wise up, e se continuar nesse ritmo, no final do ano vou estar fluente com certeza. A escola é excelente.

    1. Só se vc estudar 4 horas em casa sozinho todos os dias. Essas aulas, com duração de horas semanais ridículo, não deixa ninguém fluente em um ano.

  6. Para se ter uma ideia de como a coisa anda ruim: inventei de atualizar meu inglês numa escolinha que está a algum tempo no mercado (coisa de uns 20 anos), e minha professora era uma garota que tinha sido garçonete em Londres. E, veja só, meu vocabulário era muito mais vasto que o dela. Numa das aulas, quando ela disse que não sabia como uma tal palavra era escrita e falada em inglês, eu desisti. Pior, em outra escola, uma professora disse que a palavra “grandniece” não existia. Detalhe: ela sequer consultou um dicionário pra comprovar a ignomínia !

  7. Este e um assunto muito interessante. Acho que a coisa mais importante e que todos professores atinjam padroes certos antes de serem permitidos a ensinar. Sou uma falante nativa de ingles mas nao teria nenhuma ideia onde devo comecar em ensinar um outro como falar ingles. Assim, estou certo que ha professores com formacoes formais que nao podem falar a sua lingua escolhida suficientemente bem para ensinar a outros. Por isso, acho que e importante que qualquer professor tenha ambos as qualificacoes determinadas por alguma autoridade de governo e tenha sido avaliado como tendo o nivel requerido de fluencia.

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