Professor de Inglês com Vivência no Exterior
Imagine a situação. Um brasileiro desanimado com a vida nas terras tupiniquins decide tentar a sorte, por exemplo, nos Estados Unidos. O cidadão sai daqui e neste outro país trabalha de pedreiro, garçom, auxiliar de serviços gerais, zelador, técnico de som em danceterias, taxista, recepcionista, etc. Esta pessoa fica cerca de cinco anos pulando de um trabalho [bico] a outro. Neste tempo convive com a língua e [alguns poucos] acabam aprendendo a falar inglês fluentemente.Certo dia este cidadão retorna ao Brasil. Então, ele decide arrumar um emprego por aqui. Por incrível que pareça ele prepara um currículo e deixa em uma escola de inglês. Afinal, ele tem aquilo que a maioria das escolas de inglês quer: vivência no exterior e inglês fluente.Neste momento, eu tenho de fazer algumas perguntas: 1) Quem está enganando quem? 2) Que experiências pedagógicas esta pessoa tem? 3) Como ele pode dar aulas de inglês se nem ao menos tem conhecimento sobre o ensino da língua inglesa como um todo: métodos, abordagens, técnicas de ensino, práticas pedagógicas, psicologia básica para lidar com os alunos, conhecimentos de psicopedagogia para identificar as dificuldades dos alunos, técnicas de gerenciamento de sala de aula, etc?
Para encurtar a conversa, listo abaixo alguns pontos a serem refletidos por todos [profissionais da área, donos de escolas, estudantes, clientes, empresas, governo, mídia, etc]:
- Os cursos de Letras na grande maioria são fracos e não capacitam bem os professores de língua inglesa. Sem contar que muitas pessoas fazem o curso de Letras achando que depois de formadas falarão inglês fluentemente. Na verdade, deveriam entrar na faculdade já tendo, no mínimo, nível intermediário de inglês. Isto facilitaria muito a formação acadêmica delas;
- Falar inglês fluentemente não é o suficiente para ser professor de língua inglesa. Morar em um país de língua inglesa por algum tempo também não é prova de que a pessoa é professor de língua inglesa. Conheço pessoas que moraram anos fora do Brasil e falam inglês mal e porcamente [e elas reconhecem isto]. Aliás, todos nós moramos no Brasil e falamos português, no entanto não somos professores de língua portuguesa;
- Outros países [incluindo os países pobres da América Latina] estão anos-luz à frente do Brasil no que se refere à ensino de língua inglesa. Parafraseando uma fala do grande filólogo, gramático e linguista Celso Pedro Luft, podemos dizer que em matéria de ensino de língua inglesa, infelizmente, o Brasil continua rotineiro e bitolado.
- O treinamento pedagógico dado pela grande maioira das escolas de idiomas se resume apenas à ensinar aos professores as ‘técnicas de ensino’ [passo a passo] de utilização dos livros daquela escolas. São poucas as escolas [franquias ou não] que formam adequadamente seus professores de língua inglesa. Vale dizer que nestas pouquíssimas escolas os requisitos para contratação são bem complexos.
As escolas preocupadas com vivência no exterior deveriam exigir outras coisas mais importantes, tais como: conhecimento de ensino da língua inglesa, perfil para lidar com conflitos em sala de aula, técnicas de gerenciamento de sala de aulas, o professor como modelo linguístico [bom conhecimento da língua, inglês fluente e acurado, boa pronúncia, boa dicção, etc], o professor como fornecedor de input compreensível. Tenho certeza que uma lida cuidados no livro The Practice of English Language Teaching, de Jeremy Harmer, poderá ajudar estas escolas a reverem os seus conceitos.Minha última pergunta é na verdade um desafio: Que tal estas escolas começarem a revolucionar o ensino da língua inglesa no Brasil ao invés de revolucionar apenas o mundo da publicidade [marketing, propaganda, etc]? É preferível gastar milhões em propaganda e menos em capacitação profissional de seus professores? Professor de Inglês com vivência no exterior é uma coisa, ter apenas a vivência no exterior é outra!
Para encerrar, afirmo que há no Brasil algumas escolas realmente boas e que se preocupam com a formação pedagógica de seus professores [tenham eles vivência no exterior ou não]. A estas escolas, o meu total respeito e admiração.
adorei o texto de hoje denilso, concordo plenamente com o que voce escreveu, experiencia propria, tive um professor que morou fora mas um péssimo professor, aliás nem deveria ser chamado de professor kkkkk
Olá, Denilso! Tenho entrado no blog diariamente pra ler os posts e fico cada mais satisfeita. É ótimo saber que existem pessoas competentes como você, alguém com quem compartilho totalmente as minhas opiniões acerca do ensino/aprendizagem de inglês como LE, principalmente no Brasil. Esse post é simplesmente fantástico! Sou uma defensora do professor-PROFESSOR! Aquele que fez Letras e tem formação pedagógica para atuar satisfatoriamente no cenário formal de ensino de LE – isso não quer dizer que não existam profissionais capacitados que não tenham formação de licenciados, tampouco que todos os licenciados sejam necessariamente bons professores – mas, ao meu ver, a licenciatura deveria ser, no mínimo, um requisito para a contratação de um professor até mesmo pelas escolas de idiomas – contexto em que isso é raramente levado em conta. Ah, gostaria de aproveitar a deixa e perguntar se você conhece o projeto do "TEPOLI" e do "EPPLE" – ambos testes designados a professores de inglês como LE – do Prof. Douglas Consolo, aqui da UNESP de São José do Rio Preto. Caso queira saber mais sobre os projetos, entre em contato comigo – pode ser pelo orkut e aí te mando meu e-mail. Além disso, gostaria de dizer que, como aluna especial de uma disciplina do programa de Mestrado aqui da UNESP-Rio Preto, escrevi um artigo, "O impacto da globalização no ensino de LE: conflito entre a homogeneização e a heterogeneização cultural", no qual uma colega e eu discutimos alguns dos pontos mencionados nesse post, caso lhe interesse, posso te enviar também. Bom, parabéns pelo blog! É uma satisfação poder entrar aqui todos os dias e ler coisas tão enriquecedoras. Bruna Busnardi – inFlux teacher, São José do Rio Preto
É também um problema achar que qualquer nativo da língua inglesa esteja apto a ensinar. Enfim, continuarei estudando…
Minha querida Bruna, fico extremamente contente com seu comentário e tenho certeza que muitas outras pessoas concordarão conosco. Conheço o TEPOLI e conheço o fantástico Douglas. Participamos de vários eventos com a APLIESP e nestes eventos nos conhecemos. Participamos juntos também de uma mesa-redonda. Enfim, uma pessoa extremamente profissional e humilde.Let's keep in touch! Temos várias coisas em comum no que se refere ao lado profissional e também no que se refere ao time de futebol que torcemos!
disse TUDO, Denilso!!! Esses são os dois mitos que mais me irritam atualmente, não que o professor nativo e o com vivência no exterior sejam maus professores ou piores que os licenciados, como muito bem disse a Bruna, mas a perpetuação desse mitos contribuem para uma desvalorização cada vez maior da profissão. As escolas acabam tendo mto mais preocupação em contratar qualquer um que tenha morado fora e que queira dar aula como bico por um tempo do que investir em um profissional mais capacitado, por este ser mais caro que aquele. Uma lástima.
Very good viewpoint. In the end what really matters is that you are competent. Once, an English teacher who had the Master degree at a university in Brazil told me that he was ashamed because he could not speak the language. But he could be well paid and work for puiblic schools. He was entitled to it. Have a lovely day,Paulo Franca, PLAFstudies.com
Concordo plenamente com tudo que voce disse. Seria ridiculo, por exemplo, eu voltar pro Brasil e me tornar "Professora" de Ingles so por ter morado fora e ter feito faculdade en ingles. Saber a lingua e fundamental, mas NUNCA deve ser o unico requisito para um professor de LE. Agora, um professor(a) de LE que tenha estudado letras, tem experiencia e tambem morou fora/estudou fora do pais, ai sim, tem grandes chances e provavelmente capacidade de usar o conhecimento adquirido.Parabens pelo Blog Denilso 🙂
Disse TUDO mesmo. Eu tive uma professora de inglês que foi garçonete em Londres. Só isso (segundo ela) já a fazia ser ótima em inglês. Eu já era formada em Tradução quando resolvi ter aulas para não ficar "enferrujada" e fui percebendo que eu acabava ajudando-a com muitas palavras, pois o meu vocabulário era (e acredito que ainda seja), muito mais vasto que o dela. Claro que saí do curso, e o pessoal da escola ficou chateado; disseram que eu deveria ter dito o que me incomodou antes de desistir. Agora, estou fazendo CCAA e TUDO, simplesmente TUDO que começa soar esquisito, eu comunico. Sou exigente mesmo, porque amo aprender e quero ser respeitada. Além do mais, estou pagando para ter ensino de qualidade !
Olá Denilso!Gostei tanto do post que resolvi recomendar para os usuários do fórum da AVRO. (Coloquei um post no fórum com o mesmo título do seu texto). Concordo com você em todos os aspectos. Acredito que quando as duas coisas estão juntas, formação acadêmica e vivência no exterior, aí sim! Mesmo assim, acredito que a formação acadêmica tem um peso maior do que a vivência, ainda mais se referindo ao inglês, que está em toda parte. Como coloquei no fórum, ele vem até você sem você precisar ir atrás dele.Abraço!
Bem concordo plenamente e posso dizer que sei do que está falando! Eu sou formada em ingles pelo ICBEU, morei nos EUA por 6 meses, fiz high school, fiquei em casa de familia em uma cidade bem pequena onde nao havia sequer mexicanos entao posso dizer que o meu intercambio cumpriu exatamente o que esse programa propoe = o convivio com os adolescentes americanos, aprender sobre a cultura etc…, tenho ECCE e ECPE <- este ultimo é um exame de proficiencia – ambos aplicados pela Michigan University e posso dizer como a falta de uma formacao em pedagogia me fez falta – sem querer ser redundante. dei aula de inlges por 6 meses e me sentia completamente incapaz!!! eu sei falar fluente, modestia a parte tenho um vernaculo rico e escrevo bem mas definitivamente nao sou capacitada para lecionar! eu simplesmente fiz no CCAA onde fui chamada para trabalhar um curso exatamente desses que ensina a usar passo a passo o livro da franquia – nunca cheguei a trabalhar no ccaa porque houve incompatibilidade de horario mas na UNS – outra franquia onde realmente trabalhei – fiz nada mais nada menos que uma provinha ridicula que qualquer um que tivesse uma nocaozinha basica/intermediaria de ingles respondia e podia ate gabaritar de tao facil! e só! nem curso pra usar o livro nem nada, depois de uns 3 ou 4 meses dando aula fizeram um cursozinho de como manter a atencao dos alunos na aula pra eles nao se dispersarem, como nao deixar ninguem de fora, como nao fazer o aluno se acanhar etc… Posso dizer que apesar da minha fluencia e fluencia com qualidade fui uma professora mediocre dessas que o post acima fala que nao devia nem ser professora…. nao tinha a menor didatica, certas coisas eu nao tinha tanto embasamento pra explicar pq tem coisas que eu simplesmente sei e nao sabia explicar o porque, a regra… a minha aula era ate dinamica e interessante mas muito superficial e eu posso dizer que eu nao botaria meu filho pra estudar comigo hehehehefica a revolta e o reconhecimento ao pedagogo!!! ?! nao sei se é esse o termo mas o que vale é a comunicacao! hehehe
Olá de novo, Denilso,Excelente post! Infelizmente uma grande verdade. Acho que o que falta é uma melhor instrução da população sobre o ensino de línguas (e por que não dizer em educação como um todo?) para que as pessoas sejam capazes de analisar criticamente o produto que estão recebendo. Quem sabe, com o trabalho em conjunto de educadores competentes e comprometidos com o que fazem, essa realidade não muda?Abraços,Henrick Oprea
Nem sei por onde começar… melhor, sei sim. Denilso MUITO OBRIGADO por esse artigo, muito bem escrito por você. Muito obrigado por dizer essas verdades que estão entaladas nas gargantas dos verdadeiros professores de Inglês já há muito tempo. Espero que sirva de alerta para nossos alunos.Só Deus sabe como eu queria ouvir isso, só Deus sabe o quanto eu queria que meus alunos tivessem a oportunidade de ler isso, só Deus sabe o quanto eu gostaria que todos os alunos desse nosso Brasil pudessem ler isso.Mais uma vez caimos na questão "saber Inglês X saber ensinar Inglês". Polêmicas a parte, mas quando você está doente, você procura um médico e não um curandeiro, quando você precisa de um agrônomo você procura um agrônomo e não um agricultor e quando você precisa aprender Inglês… você deveria procurar um VERDADEIRO professor de Inglês. Infelizmente esse último caso nem sempre acontece, na maioria das vezes os alunos procuram um nativo ou alguém que morou fora. Isso não é errado, contando que essa pessoa que morou fora também tenha formação, como é o meu caso, tenho formação nacional e internacional.Alunos, abram os olhos! Vocês só aprenderão Inglês se procurarem um profissional qualificado, com formação!!!Acho um absurdo, que essas franquias LIXO contratem ex-intercambistas sem formação para dar aulas de Inglês. Isso, é enganar as pessoas e o aluno que aceita, está levando gato por lebre, alunos, exijam professores com formação, isso é seu direito.Me sinto envergonhado em dizer, que na minha cidade (100 mil habitantes) eu sou um dos poucos professores com formação. Onde estou, se vê de tudo… franquias que ganham alunos (principalmente os adolescentes) por puro marketing, ou até mesmo por suas estruturas mega-modernas mas sem conteúdo algum. Aqui também se vê donos de escolas/professores que usam de intimidação para ganhar alunos. Outro dia mesmo, pude presenciar um senhor que dá aulas de Inglês (detalhe, sem formação alguma) dentro de uma universidade federal aboradando os alunos dizendo: "Do you speak English?", "…if you speak English why don't you speak now…" os pobres coitados ao se depararem com total pressão psicológica diziam: "Sou iniciante", ou "eu não quero falar Inglês agora" e por fim, o indívíduo desprovido de qualquer senso de ética dizia: "Pelo visto, seu ensino não está sendo bom… pq vc não muda para a minha escola?". Ah, por favor! Uma pessoa sem nenhuma qualificação profissional não poderia dizer isso. Quais são as garantias que o aluno terá ao ingressar numa escola como essa desse senhor? Sei lá, fico indignado, pois a cada dia acredito mais que cada macaco deveria ficar em seu galho. Uma pessoa como essa jamais poderia dar aulas de Inglês.Acho que nem tenho muito o que comentar, mas vou deixar aqui uma dica para quem procura capacitação. Façam o TKT Course, que é o curso preparatório para o exame TKT da University of Cambridge. Eu mesmo tive a oportunidade de fazer esse curso (e hoje também estou treinando/ensinando professores que vão fazer o TKT), nele você terá uma abordagem completa de teaching, enfocando de forma bem abrangente todos os contéudos de didática. Ou seja, tudo aquilo que um bom professor de Inglês precisa ter, e o melhor, esse curso tem duração de apenas 1 ano, façam!No mais, o Denilso, já disse tudo!
Eu fiz o TTC na Cultura Inglesa e tinha um rapaz de Londres que começou conosco, mas quando começou as aulas práticas, quem foi o primeiro da turma que desistiu? Nem preciso dizer né…..
Gostaria de saber porque o aluno de escolas formais, apesar de todo o conhecimento que possui, tem tanta dificuldade de falar?Eu nunca tive a oportunide de frequentar um curso de ingles, mas conheci muita gente; estudandes de escolas de otima reputacao, professores formados em letras em faculdades de renome, tradutores/interpretes, resumindo pessoas que eu confiava ter competencia no ingles. Quando por acaso me casei com um nativo da lingua inglesa, todos desapareceram!O aluno de escolas formais de ingles, apesar de todo conhecimento na sua maioria nao conseguem falar, nao confiam nas suas habilidades!Ja alunos dessas escolas com metodos mais informais ou ate duvidosos nao perdem a oportunidade de praticar com um nativo.Por que essa diferenca?Esta tem sido minha experiencia nos ultimos 10 anos.
Oi Denilso, tudo bem?Goste muitoi do artigo mais gostaria de postar algumas opiniões.Morei nos USA por 12 anos, fiz High school e faculdade por lá, não sou professor de ingles mais no entanto ensino a lingua a minha esposa e filha de 12 anos, e posso afirmar que elas falam Inglês fluentemente. Acredito que existam profissionais e profissionais. Concordo com vc quando diz que as escolas usam o fato de alguém ter morado fora como algo sensacional, concordo também que isso não faz com que a pessoa fale um Inglês fluente porem o fato de se terMorado fora e ter feito bom uso disso, é na minha opinião, um enorme diferencial em professor de Inglês por diversos motivos. Sei que existe excelentes profissionais que nunca viajaram para o exterior mais a minha experiência lá fora me deu a vivência, a fluência, as gírias, o entendimento da lingua que fica muito difícil para alguém que não tenha morado lá adquirir tudo isso.Acredito também que o lado pedagógico precisa e deva existir, mas cada caso é um caso, como explicar as pessoas que simplesmente aprendem a lingua apenas morando no exterior, e falam fluentemente, eu conheço varios. O que serve para um talvez não sirva para outro e vive versa. Depende do que vc espera do Inglês. Se alguém conseguisse me ensinar a lingua de uma forma interessante e eficaz, sinceramente não ligaria se a mesma possuísse diplomas, certificados. A grande maioria das pessoas precisam do Inglês para comunicação de uma forma geral, elas não estão interessadas em certificados, em entrevistas de emprego o maior certificado é a fluência demonstrada, falo isso pois realizo entrevistas em Inglês todos os meses, e basta apenas 5 mim. para saber quem fala fluente e quem não fala.De qualquer maneira, como disse anteriormente, cada caso é um caso, e sinceramente sempre vai depender mais do aluno do que do professor.Gosto muito do seu blog meu caro, minha esposa e filha são fãs incondicionais, sempre discutimos artigos do seu blog em casa.Anyway, I wish you all the luck and keep up with the good work. The problem with schools in general, specially in Brazil, is because it's all about the Benjamins, my friend. I think you know what I mean.Sincerely
Nossa, que publicação maravilhosa!!!!! It's great!