Como Criar um Método de Ensino de Inglês :: é possível?

Como criar um método de ensino de inglês?

Você já se fez essa pergunta? Já teve a vontade – curiosidade – de saber como criar um método de ensino de inglês?

Não estou me referindo ao modo banal como temos hoje na internet onde qualquer um com dicas de inglês que viram um cursinho já diz ter descoberto um método milagreiro para ser fluente em inglês em 3 meses.

Nada disso!

Aqui estou me referindo ao lado técnico do assunto! O sentido Profissional do assunto.

Para encontrar a resposta a essa pergunta, vamos por partes!

Antes quero só deixar claro que esse texto é para professores e profissionais da área de ensino de línguas. O que escrevo aqui pode ser questionado, apresentado de modo diferente, discordado, etc. Essa é a mágica da nossa ciência: discordar e aprender juntos. Portanto, todos os comentários serão bem vindos!

Paradigmas x Abordagens x Métodos

A criação de um método começa pelo mais simples: saber qual a diferença entre abordagens e métodos e também saber o que são paradigmas.

Confesso que isso não tem nada de simples! Mas, vou simplificar!

Paradigmas

Os paradigmas são as crenças universais inquestionáveis. São aquelas verdades absolutas inabaláveis até certo ponto.

Elas podem ser de natureza linguística (a gramática universal de Chomsky, gêneros textuais de Bakhtin, as teorias de Second Language Acquisition de Krashen), pedagógica (teorias vygotskianas e piagetianas), psicológicas (behaviorismo de Skinner, Watson e Pavlov, a terapia não-diretiva de Carl Rogers, as inteligências múltiplas de Howard Gardner), neurocientífica (modelo declarativo/procedimental de Michael Ulmann), etc.

Enfim, os paradigmas formam a base filosófica na qual o método terá sua sustentação teórica.

Mas, não é só aí não. O método também tem de se sustentar em uma abordagem.

Abordagens

As abordagens (approaches) costumam responder aos porquês e aos o quês da linguística geral e também da linguistica aplicada ao ensino de línguas:

  • o que é língua?
  • por que a língua é importante na vida do ser humano?
  • por que a língua é importante para a sociedade?
  • por que as pessoas querem aprender uma segunda língua?
  • o que é importante para que o ensino/aquisição de língua aconteça?
  • o que ensinar e por que ensinar o que se pretende ensinar?
  • o que ensinar primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto… e por que seguir essa ordem?
  • por que as pessoas aprendem melhor desse jeito e não de outro?

Enfim, aqui ocorre uma discussão linguística mais aprofundada.

Os paradigmas começam a ser amarrados à abordagem. Nasce assim o que eu – Denilso – chamo de teoria de ensino/aprendizado. Ou seja,

paradigmas + abordagem = teoria de ensino/aprendizado

Quando a teoria de ensino/aprendizado estiver bem consolidada (estudada, analisada, discutida, reavaliada), temos meio caminho para saber como criar um método de ensino de inglês.

Então, o que são métodos?

Métodos

Os métodos são os comos de toda a teoria. Ou seja, ao desenvolver um método o estudioso procura responder como colocar em prática tudo o que ele considerou, discutiu, pesquisou, avaliou, observou nas fases anteriores.

  • como ensinar a língua de modo eficiente?
  • como incluir o conteúdo em uma sequência lógica e pedagógica?
  • como estruturar o syllabus (currículo) de modo que o aprendiz vá do ponto a ao z de modo eficiente?
  • como os professores trabalharão esse syllabus?
  • como os professores atuarão em sala de aula?
  • como avaliar o sucesso/progesso dos aprendizes?
  • como melhor ensinar os tópicos do syllabus aos alunos (estratégias, atividades, passo a passo, exercícios, jogos, trabalho em dupla, grupo, projeto semestral, etc.)?

Só para reforçar, lembre-se que o método é a prática de toda teoria de ensino/aprendizado (paradigmas e abordagens). O método pode passar por modificações com o tempo. Afinal, é na prática que muitos paradigmas e abordagens se sustentam ou não. Por isso, o criador de um método tem de saber muito bem os conceitos e teorias para avaliar o que fazer, como fazer, o que mudar, o que não mudar, etc.

Um exemplo

Durante a década de 1930 a 1950, o Audiolingualismo foi o queridinho das aulas de idiomas.

Essa abordagem tinha como premissas básicas (paradigmas) as teorias behavioristas. Em resumo, a língua naquela época era vista apenas como uma série de padrões e estruturas que deveriam ser repetidos exaustivamente.

Os drills com o reforço positivo (very good, congratulations) e o reforço negativo (no, that’s not correct; try again) eram o método usado para que a teoria fosse colocada em prática.

A partir da década de 1970, linguistas (Michael Halliday e Dell Hymes) começaram a questionar o Audiolingualismo. Eles revisitaram as premissas básicas e apoiados em novas teorias (principalmente as de Chomsky) sugeriram algo novo: a Abordagem Comunicativa (Communicative Approach), cujo nome oficial é Communicative Language Teaching (CLT).

Umas da maneiras mais conhecidas de colocar essa abordagem na prática é o PPP. Portanto, este PPP é um método. Para quem não sabe, PPP significa Present » Practice » Produce. Nele a professora em sala de aula apresenta o conteúdo (geralmente explícito), então conduz uma série de atividades/exercícios controlados (prática) com correção dos erros e ajuda no que for necessário e, por fim, a produção por parte dos alunos (que pode ser uma atividade maior na qual os learners meio que se viram sozinhos e a teacher os observa).

Esse é um resumo bem resumido dos resumos dessas teorias apenas para você ter uma ideia de como funciona(m) o(s) processo(s).

Muitas vezes, uma mesma teoria (paradigmas e abordagem) serve de base para um novo método. Esse é o caso do Engage, Study, Activate (ESA) que é um método (ou metodologia) baseada no Communicative Language Teaching.

» Leia também: Método ou Abordagem – qual a diferença?

Como Criar um Método de Ensino de Inglês

Depois de tudo o que foi dito acima, a pergunta persiste. Afinal, como criar um método de ensino de inglês?

Você já deve ter percebido que a criação de um método demanda tempo, leitura, testes, pesquisas, tentativas, correções, mudanças, avaliações, aperfeiçoamentos, discussões, etc.

Não é algo tirado do nada e inventado de qualquer jeito!

Depois de pensar em toda a teoria de ensino e aprendizado – ou seja, passar pelas fases de paradigmas e abordagem –, precisa-se ainda pensar mais além na prática de ensino/aprendizado e no conteúdo a ser ensinado.

A prática de ensino/aprendizado

Aqui algumas importantes perguntas são:

  • qual o passo a passo que deverá ser seguido na aulas?
  • quais as habilidades (speaking, listening, reading, writing) serão trabalhadas em cada parte da aula e como isso será feito?
  • quais as estratégias para ensinar vocabulário (o que vocabulário?), gramática (o que é gramática?) e pronúncia (o que é pronúncia?)?
  • quais as estratégias usadas para ensinar o conteúdo geral?
  • qual será o modelo de apresentação do conteúdo?
  • qual será o modo como os alunos se envolverão com esse conteúdo em sala de aula?
  • quais serão os modelos de atividades, exercícios e jogos em sala de aula e fora da sala de aula (homework)?
  • qual será o modo de avaliação e os critérios a serem avaliados?
  • qual será a maneira utilizada para desconvier a autonomia dos alunos?

Essas perguntas são apenas a ponta do iceberg. Afinal, ao longo do tempo, elas poderão ser revisitadas e novas respostas serem encontradas.

O conteúdo

Na nossa área de atuação profissional, o nome técnico para o conteúdo é syllabus (também curriculum). Algumas perguntinhas sobre ele são:

  • o conteúdo será autêntico (o que é conteúdo autêntico?) ou não?
  • qual será a fonte principal do conteúdo?
  • o syllabus será gramatical, lexical, funcional…?
  • como o syllabus sera estruturado?
  • como o syllabus será dividido em níveis de aptidão?
  • como o syllabus será dividido em relação ao tempo?
  • qual será o conteúdo para o ensino de cada habilidade linguística?

Portanto, são mais várias perguntas a serem respondidas com cuidado e profissionalismo.

Conclusão

Como você bem pode perceber, essa coisa de como criar um método de ensino de inglês não é algo assim tão simples.

Exige-se muita experiência, estudos, análises, respeito aos seres humanos envolvidos (alunos e professores, principalmente) e muito mais.

Criar um método é coisa séria e para chamá-lo de método a comunidade científica o avaliou, dissecou, discutiu, questionou, elogiou, criticou, etc., sem parar. Os aprendizes e professores o avaliaram e suas críticas foram – e continuam sendo – ouvidas constantemente.

E aí!? Agora que você já sabe como criar um método de ensino de inglês, quanto tempo você acha que vai levar para criar o seu método?

Take care and, yes, let’s keep learning!

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