Por que meus alunos não falam inglês?

Scott Thornbury, renomado autor e palestrante na área de Ensino da Língua Inglesa [ELT], escreveu em seu blog o postR is for Reticence“. Neste post ele trata sobre o medo [receio, vergonha, timidez] que os alunos tem de falar inglês em sala de aula. Entrei em contato com o autor e pedi sua autorização para traduzir e publicar seu texto em meu blog. Ele concordou. [Thanks Scott! Let’s see what Brazilian people have to say about reticence!]

Minha intenção é que você [professor ou aluno de inglês] opine sobre o assunto. Procure responder a seguinte pergunta: por que você [aluno] tem medo [receio, vergonha, timidez] de falar inglês em sala de aula? E, o que você [professor] acha que é a razão para este medo [receio, vergonha, timidez]?

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Não, não há nenhum verbete sobre “Reticence” [Receio de Falar] no livro “A-Z of ELT“. Muito menos “shyness” [timidez]. No entanto, trata-se de um assunto que surge com certa frequência, especialmente nas conversas sobre as abordagens que dão prioridade à fala produzida pelos alunos, tais como o Task-Based Learning ou Dogme. “Até aí tudo bem“, contestam alguns professores, “mas meus alunos não querem falar“.

Por mero acaso, eu tratei do assunto ‘timidez dos alunos’ na lista de discussão sobre o Dogme, que por sua vez gerou um post no blog da Delta Publishing ano passado: Learners who are shy to speak [Alunos que são tímidos para falar].

Naquele post eu ressaltei que o modo como o professor conduz as coisas é um fator crucial tanto para encorajar quanto para inibir a participação dos alunos em sala de aula:

Os alunos ao serem solicitados que falem abertamente sobre algo que seja do interesse deles, acabam descobrindo que o principal objetivo do professor é obter, testar e corrigir um item da língua pré-selecionado (o ‘future perfect’, por exemplo), é óbvio que desta forma os alunos estarão menos dispostos a entrar na brincadeira.

Foi então que me vi envolvido por um artigo escrito por Xiaoyan Xie, publicado na última ELT Journal (January 2010), entitulado “Why are students quiet? Looking at the Chinese context and beyond” (Por que os alunos estão calados? Observando o Contexto Chinês e além). Cheguei ao artigo com certa apreensão devido à sua fraca chamada do ‘contexto chinês’. Eu esperava que a autora (assim como muitos antes dela) jogasse a culpa pelo receio (medo, vergonha, timidez) que os alunos têm em falar na metodologia comunicativa culturalmente inadequada típica dos países ocidentais (conforme exemplificada nos livros-textos mais vendidos atualmente) e a incoerência desta metodologia com os valores confucianos da modéstia e sua fuga das conversas diretas. De forma alguma. Ao invés de apelar para os estereótipos culturais, a autora gravou falas das interações em salas de aulas chinesas para demonstrar como o estilo de interação do professor – incluindo seu controle exacerbado do discurso, sua fidelidade inflexível ao plano de aula e sua falha em envolver-se com as contribuições dos alunos em qualquer nível que não seja em termos de exatidão (accuracy) – contribui com o receio (medo, vergonha, timidez) dos alunos em se expressarem. Ela conclui dizendo:

As descobertas feitas através do estudo sugerem que os professores deveriam afrouxar o controle e dar aos alunos mais liberdade para escolherem seus próprios tópicos para assim permitir que eles tenham mais oportunidades de participar na interação em sala de aula. Fazendo isto há a possibilidade de estimular (encorajar) uma cultura de sala de aula que seja mais aberta aos desejos dos alunos em explorar a língua e tópicos que não necessariamente estejam em conformidade com os passos rígidos do currículo do curso e limitado às visões (crenças) pessoais dos professores. (p. 19)

Ela termina seu artigo com uma pergunta: “Qual é o grau apropriado de variabilidade (mudanças, adaptações) que os professores chineses, or até mesmo professores de outras culturas, devem permitir para que os padrões de comunicação em sala de aula sejam ampliados satisfatoriamente?

Formem grupos e conversem a respeito!

17 Comentários

  1. Olá, Denilso, muito legal essa informação. O medo muitas das vezes é de errar na hora de falar, fazer uma construção errada porque a pessoa ela se fica ligada muito nas construções gramáticais. Isso, aconteceu comigo, minha primeira experiência com nativos foi no meu trabalho, eu estava indo bem, até o momento em que eu usei a seguinte construção: "He don't speak English.", pedi desculpas, corrigi o erro e continue minha conversação, mas vi ali que eles não deram importância para o erro, mas sim para a mensagem, depois desse comecei a conversar em inglês sem medo de errar e quando isso acontece, algupem me corrigi e levo essa correção à sério. Não fico chateado, etc.

  2. Acho que o pior medo dos alunos em salas de aula, ao falar em inglês, é o constrangimento. Ele não é acostumado, então, se ele falar e errar alguma pronúncia ou até mesmo construções gramaticais, e o professor o corrigir, ele tem vergonha do que os outros vão achar…Felipe

  3. Denilson,Ótimo tópico pra se discutir.. Parabens!Leciono ingles há três anos e confesso que as práticas orais são aquelas que mais tenho dificuldade de cordenar. Percebo que meus alunos adolescentes são os que mais têm dificuldade. Já as crianças e os adultos tem mais facilidade. Tento motiva-los com uso de músicas e conversas sobre assuntos que eles gostam, assim a aula fica mais agradavel. Já fui aluna e sei que muitas vezes o medo de errar nos faz ter mais dificuldade e vergonha. Acredito que o papel do professor seja muito importante.

  4. Pois é, eu estou estudando inglês e observo que alguns professores riem dos erros dos alunos fazendo-os mais timidos. O medo de errar é normal, mas ninguém gosta de ser alvo de risadas. Por outro lado outros professores dizem que não é nosso idioma nativo, então não devemos ter medo de errar, pois os erros nos farão melhores a cada dia, e concordo com isso, juro que não perdi o medo mas também não deixo de participar nas aulas, passando por cima da insegurança.

  5. O motivo para que eu não fale muito na sala de aula da escola é que se eu erro, a professora corrige, e se eu acerto, meus colegas falam coisas do tipo: "nossa, como ele é inteligente!" ou "tinha que ser CDF". Já no meu curso de Inglês, eu não falo pois as discussões são sobre assuntos que eu nunca tinha pensado na vida, então, para não falar bobagem eu evito falar…

  6. Acredito que esse receio que os alunos demonstram é puramente medo de falar errado. ou simplesmente timidez, quando eu comecei a estudar ingles, ficava com vergonha de falar na sala de aula, so falava quando a professora perguntava…depois eu fui perdendo esse medo, principalmente porque eu me dedico bastante ao estudo de inglês. Mas sempre fica aquele receio de errar coisas bobas…

  7. Olá Denilso, é um grande prazer receber um e-mail seu todos os dias. Bom, acho que você tem toda razão, no meu caso eu acho que não falo em sala de aula por ter medo, vergonha de falar errado na frente dos outros alunos que sabem se expressar bem, e eles ficarem rindo. E o pior de tudo é que já estou terminando o meu curso e não sei falar práticamente nada, até mesmo na hora de ler um texto eu fico nervosa e acabo pronunciando errado as palavras que conheço. E só agora estou querendo correr atrás do prejuijo…

  8. Sou aluna de inglês e apesar de saber bastante, as vezes, numa simples conversação, fico nervosa ao ponto de esquecer as palavras certas a serem usadas, tanto que prefiro conversar com alguém do meu nivel do que um nativo ou um professor por medo da correção no meio da frase ( o que faz com que na hora vc perca o que estava falando ) ou de parecer alguém que não sabe inglês. Não sei como vencer essa vergonha, pq apesar de tudo , as correções são uteis para o aprendizado, tanto que o que sou corrigida, costumo não errar mais ( apesar de ter cada vez mais medo )

  9. Você é tão bom em inglês que escreveu um "or" no lugar de um "ou" no último parágrafo! É o costume! rs

  10. Olá Denilso, todos nós professores e ex-alunos sabemos das dificuldades que tivemos,como alunos, e da que temos agora como professores. O medo, a timides, a vergonha de erra na frente dos colegas são fatores que inflenciam muito os estudantes na hora de falar em sala de aula. A didáctica do professor é outro fator crucial. Como foi comentado aqui, certos professores até dão risadas dos erros dos seus alunos (para vermos o grau de despreparo de certos professores). Então juntando tudo isso temos professores despreparados e alunos mais ansiosos, e num clima desse quem é que pode aprender outro idioma? Acho também que artigos como esse que você publica aqui em seu blog tem uma contribuição muito grande para a mudança desse cenário. Espero que continue assim por muito tempo. Abraços…

  11. Olá Denilso, creio que o problema todo é o medo de errar e de ser ridicularizado. Aí o professor entra em cena pra ajudar o aluno a se descontrair e se expressar.Gosto do seu trabalho. Parabéns. Abraços…

  12. Eu me lembro de um ex-colega de inglês que se recusava a responder e participar da conversação. Lembro que ele tinha o nível mais baixo que os outros ou assim parecia ser.

  13. Denilso it´s a very important question, because many students around the world have this problem, and most teachers in language institutes and public schools don't know, how solve this problem,thank you for addressing such important issues inyour blog.

  14. Sou alundo de nível avançado e confesso que ontem dei uma travada em uma entrevista e cometi equívocos de principiante. Paciência. Digo isso para mostrar a importância de quebrar o gelo em sala de aula, galera. Abraço

  15. Interessante falar sobre timidez. Sou professora hj mas ja fui uma aluna muuuuito tímida, e tenho alunos muito tímidos também. Sou extremamente cuidadosa. Um dia tive uma conversa em particular com uma aluna q quase não participava da aula. Ela me disse que tinha medo de errar, se se expor. Eu disse pra ela que errar faz parte do processo de aprendizagem e que eu ja errei muito também e ainda erro. Temos sempre algo novo pra aprender. Vou observando os erros dos alunos e procuro corrigi-los sem causar constrangemento, ou seja, não me dirijo direto ao aluno, deixo um tempo passar e depois falo pra sala toda como seria o certo. Assim ninguém fica envergonhado. Tbm procuro atender alguns pedidos dos alunos para deixar a aula mais interessante, mais gostosa, pra quebrar o gelo. Sempre funciona.

  16. Percebi que tenho problemas em falar inglês não só com o professor, mas também com qualquer pessoa que pareça estar mais avançado do que eu.Na escola, converso bem com amigos que estão no mesmo nível que o meu, mas quando vou falar (ou até mesmo cantar uma música que eu saiba a letra) em inglês com um dos colegas que já fizeram cursos (e sabem muito mais do que eu) eu simplesmente travo.Acho que o medo de estar fazendo feio e ser corrigido existe, e torna-se muito maior quando eu sei que a pessoa já compreende a língua falada e que vai captar até os pequenos erros da minha fala.

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