O que significa “end in smoke”?

No post de ontem falei sobre como se diz “acabar em pizza” em inglês. Na dica deixei claro que, infelizmente, não há um equivalente exato para essa expressão na língua inglesa. No entanto, um leitor comentou que em um certo livro os autores dão a expressão “end in smoke” como um equivalente para o nosso “acabar em pizza“. Resolvi então falar sobre essa expressão hoje e ver o que podemos aprender com ela.

Muitos livros de inglês publicados no Brasil nada mais são do que repositórios de expressões encontradas ao longo do caminho. Ou seja, a impressão que tenho é que os autores encontram as expressões no decorrer de sua jornada como aprendizes e profissionais e vão tomando nota. Depois juntam tudo apresentam a uma editora e transformam aquilo em um livro. Até certo ponto, não vejo nada de errado nisso.

O problema é que muitos desses livros não explicam nada. Eles não falam sobre as nuances por trás de cada expressão ou palavra. Eles não dão dicas sobre o contexto em que aquela expressão ou palavra é usada. Os autores se preocupam apenas em colocar as equivalências do português para o inglês e pronto. O leitor [se é que dá para ler livros assim] acredita naquilo que está no livro e começa a usar a tal expressão como se aquilo fosse verdadeiro para tudo. O leitor acredita que aquilo é assim e não se fala mais nisso.

A expressão ‘end in smoke‘, por exemplo, é um desses casos que precisa ser explicado melhor. Primeiro, “end in smoke” não aparece nos principais dicionários de expressões idiomáticas disponíveis no mercado – Cambridge, Longman, Oxford, etc. não mencionam a expressão. Isso significa que a expressão caiu em desuso. Segundo, ao procurar pela expressão em um Corpus da língua inglesa os resultados são praticamente nulos. Mais um forte indício de que a expressão não é tão usada assim. Logo, se não é tão usada, não deve ser usada. Afinal, em se tratando de língua nós devemos ensinar e aprender aquilo que é usado frequentemente por falantes nativos da língua.

O significado [uso] de “ended in smoke” também é curioso. Em alguns websites lemos que a expressão se refere ao esforço que uma pessoa fez para realizar um projeto e no final o projeto vira fumaça. Ou seja, não dá em nada. Em português seria algo como “ir para as cucuias“, “ir por água abaixo” e similares. Os mesmos websites dizem que atualmente o mais comum é dizer “go up in smoke“.

Ao procurarmos “go up in smoke” em dicionários de expressões idiomáticas e outros nós a encontramos. A definição do sentido figurado é: if a plan or work goes up in smoke, it is spoiled or wasted [se um plano ou trabalho vai pras cucuias, ele é arruinado ou desperdiçado]. Reforçando assim a ideia de que se trata de um projeto no qual você colocou muita energia, dedicação, esforço, suor e lágrimas e no fim não deu em nada. Exemplos:

  • Then his business went bankrupt and 20 years of hard work went up in smoke. [Então o negócio dele faliu e 20 anos de muito esforço foram pras cucuias.]
  • Everything we own has gone up in smoke with the stock crash. [Tudo o que a gente tinha foi pras cucuias com a quebradeiras das bolsas.]
  • The entire investment went up in smoke. [Todo o investimento foi por água abaixo | Perdemos todo o nosso investimento.]

É curioso notar que a maior parte dos exemplos encontrados envolve o mundo dos negócios [investimentos, valores, empresas, etc]. Já a nossa expressão “acabar em pizza” transmite a ideia de corrupção, politicagem, safadezas políticas, etc.

5 Comentários

  1. Como dizer: colocar os pingos nos ii? "caipira"? cutucar a onça com vara curta? amigo da onça? "sem noção"? Desde já agradeço (aliás como dizer "desde já?").

  2. Olá Denilso, fiquei feliz de você ter feito uma postagem com o que eu falei ontem sobre “acabar em pizza”. Bom, quando eu sugeri a expressão TO END IN SMOKE não queria dizer que devemos usar como resposta final, nem que é a mais usada, que é verdade absoluta ou coisa assim por ipso facto.Se estamos aprendendo inglês apenas para se virar, então basta aprender uma única forma de falar algo and it’s ok. O livro Como dizer tudo em inglês de Ron Martinez diz que nem mesmo suas frases são únicas, havendo outras formas de se transmitir aquelas ideias.Mas, para nós que ensinamos a língua inglesa, é bom aprendermos expressões, mesmo que estas não sejam mais usadas, uma vez que os alunos nos olham como obras de referências ambulantes; o que não quer dizer, necessariamente, que saberemos de tudo, nos tornando um Mr. know-it-all.Mas não mencionar a expressão, ou deixá-la de lado nesse caso, seria o mesmo que um aluno perguntar a um professor de português: “Professor, o que é vosmecê?” E o professor responder que não vale apena aprender o significado porque essa palavra não é mais usada. Às vezes, nós aprendemos algo apenas por curiosidade linguística.Fico impressionado como uma expressão tão “sem uso”, tão “desatualizada” como “to end in smoke” tenha sido usado por três linguístas especializados em expressões e coloquialismos do inglês falado como os autores do livro whatchamacallit, será que eles não têm acesso aos mesmos dicionários que você pesquisou e não encontrou nada sobre “end in smoke”? Se não podemos confiar nas obras de referências, tão pouco deveria eu confiar também nos seus dois livros????Além disso, será que três profissionais altamente qualificados não sabem como se diz em inglês “acabar em pizza”? Será que eles não poderiam usar a fraseologia usada pela vossa senhoria ao invés de “end in smoke”?Fora isso, em muitos websites na net você pode encontrar a expressão “end in smoke” sem qualquer definição que de está fora de uso:O <a href="http://www.usingenglish.com/reference/idioms/end+in+smoke.html&quot; rel="nofollow">UsingEnglish.com é muito usado como referêcia. Ele explica a expressão mas não diz nada do que você falou.O Webster’s Revised Unabridged Dictionary diz:“To burned; hence, to be destroyed or ruined; figuratively, to come to nothing.”Até mesmo no <a href="http://answers.yahoo.com/question/index?qid=20080424183312AAVDy7A&quot; rel="nofollow">yahoo resposta se comentou o uso e significado da expressão; os nativos poderiam ter dito que essa expressão não é mais usada, etc, mas ninguém disse nada, e visto terem-na explicado é porque fazia parte do vocabulário deles.Se digitar no Google “ends in smoke” verá várias páginas nativas usando essa expressão, inclusive em jornais.O fato de ser muito ou pouco usada não quer dizer nada. Por exemplo, em uma das suas postagens você falou sobre “rock on”. Nesse website (<a href="http://onlineslangdictionary.com/&quot; rel="nofollow">The Online Slang Dictionary) os nativos da língua inglesa podem opinar por dizer se essa expressão é muito usada ou não. Alguns nativos dizem nunca ter usado a expressão que você abordou no post. Entretanto, o fato de alguns nativos não a usarem não lhe impede de falar sobre ela, nem usar, nem comentar sobre “rock on”.Acho que ninguém morrerá se usarmos “end in smoke” ao invés de suas sugestões, o importante é fazer-nos entender em inglês. Seu blog é lido também por pesquisadores e por professores, nem tudo é aceito como verdade universal.Espero que você publique meu comentário para o esclarecimento do assunto e por respeito aos seus leitores que é graças a eles que você vende livros, dá aulas, e ganha com o adsense.Aprender é um processo eterno, somos eternos alunos Denilso, o problema é querer saber todas as respostas do inglês “na ponta da língua”.Meu email: edwardotj@hotmail.com

  3. Eu também queria que você falasse sobre os significados das expressões "to be self conscious" e "and it turns out that".

  4. Dear Eduardo,Minha crítica pelo que percebo não foi bem interpretada. Concordo com suas colocações; porém, elas não me fazem tirar nada daquilo que disse.Questionar o uso de uma expressão é natural. O 'rock on' que você cita [e sobre o qual eu escrevi] é usado amplamente por roqueiros. Acredito eu que nem todo falante nativo da língua inglesa seja roqueiro, logo ela não é amplamente usada. Sobre o 'end in smoke' o fato é que em um Corpus da Língua Inglesa [se você tiver acesso a um, recomendo que faça um teste] a expressão não aparece ou aparece raramente. Os dicionários mais atuais que hoje são feitos baseados em Corpus [corpus-based dictionaries] não mencionam tal expressão e aqueles que a mencionam dizem que se trata de uma 'old-fashioned expression'. Diante disso, creio que o todo o resto faz sentido.Os sites por você citado apenas definem as expressões e eles não entram em detalhes linguísticos de uso das expressões, e muitas vezes não fazem análises do uso dessas expressões em um Corpus da Língua Inglesa [BNC, Oxford Corpus, CANCODE, COCA, ANC, Collins Cobuild, ICE, etc]. Tenho acesso a apenas três desses Corpus e neles a ocorrência da expressão 'end in smoke' é praticamente nula. Não tiro o mérito do trabalho dos outros. Eu apenas acredito que ao lidarmos com Léxico [Aquisição e Ensino Lexical] devemos ir um pouco mais a fundo para sabermos até que ponto tal expressão é pedagogicamente válida. Afinal, posso ter alunos falando 'end in smoke' e muitos falantes nativos rirem dos alunos por eles usarem expressões fora de uso. Seria o mesmo que eu ensinar a um estrangeiro uma expressão como 'quéla mina é um brotinho'. Posso falar aqui de incongruência! Enfim, são minhas observações.Para encerrar, eu acredito que Ron Martinez [falanta nativo da língua, linguista e escritor de livros] teria mencionado tal expressão em seu livro 'Como dizer chulé em Inglês?' caso ele também concordasse que ela fosse um equivalente para 'acabar em pizza'. Caso você não tenha o livro, você poderá ler o texto publicado no blog Tecla Sap [aqui].Sem contar também a questão semântica [significado] que a expressão carrega. Tudo isso é de se pensar ao ensinar [incluir em um livro] uma expressão ou outra com sua equivalência exata [se possível] ou aproximada.Este é o ponto ao qual me refiro no texto![OBS.: esse texto foi escrito a 01:59 da manhã; portanto eu estava sem paciência para ler tudo e fazer alterações. Portanto, assumo a responsabilidades pelos possíveis erros de digitação, etc.]

  5. Entendi amado. Nesse sentido, eu também concordo com você. Por exemplo, o Novo Dicionário de Expressões Americanas de luiz Gunani Gomes não usa END IN SMOKE nenhuma vez, mas, ao invés disso, usa a expressão que você mencionou, a saber, TO GO UP IN SMOKE.Eu acho que ninguém riria de mim se eu falasse END IN SMOKE, pois já a usei com nativos e eles não riram, até porque eles gostam muito quando estamos nos esforçando para se expressar na língua deles. Mesmo quando falamos bem errado gramaticalmente, eles lhe ouvem com bastante atenção. Além disso, se tivermos medo de passar por ridículo, isso vai atrapalhar nosso aprendizado, pois ficaremos sempre nos perguntando, “ai será que está certo??!!”, e em inglês é errando que se aprende.Eu gosto muito da lexicografia, de entender a evolução da língua, e dessa forma, querendo ou não, você aprende muito sobre expressões antigas, etc… acho que no comentário que eu fiz, eu poderia ter falado algo mais, do tipo, “existe também a expressão tal, mas ela é pouco usada atualmente, embora ainda possa ser lida na literatura inglesa”, uma vez que são tantas palavras e expressões para aprender que seria melhor, de fato, darmos mais atenção às expressões mais usadas atualmente.Se Ron Martinez não mencionou END IN SMOKE no seu livro, isso pode ter sido por vários motivos, uma vez que até mesmo os lexicógrafos, quando fazem uma obra de referência erudita, não querem dissecar o assunto de forma a não deixar nada de fora. Por isso que existem tantos e tantos dicionários e léxicos, uma vez que sempre algo fica de fora, e assim outro estudioso linguista acha necessário apresentar outro trabalho acadêmico. O Dicionário de Expressões Cambridge omite algumas expressões que são apresentadas pelo de Oxford. Poderíamos até nos perguntar por que um omite e o outro apresenta. Por isso a importância de ver o conjunto das obras. Ter certo linguista mencionado, ou deixado de mencionar, algo por si só não representa nada; é necessário um consenso entre os gramáticos sobre algo, como aquela questão sobre usar “his” ou “their” para “everyone”.Os livros de Ron Martinez são maravilhosos, ele é um professor por excelência, mas você sabe que eles são dirigidos ao público comum e não para acadêmicos que estudam a língua e todas as suas facetas possíveis.Estou falando na ótica de quem ensina, e não de alunos. Para quem ensina, conhecer essas expressões é importante, mesmo que old-fashioned.A primeira vez que vi seu livro eu achei maravilhoso, nem sabia que você tinha esse blog, ou que um dia trocaríamos ideias. Você tem ajudado muitas pessoas com esse blog, e gostei muito de saber que você se interessa pelo grego e hebraico. Assim deixarei essa pequena mensagem que já tocou milhões de pessoas no mundo:“ουτως γαρ ηγαπησεν ο θεος τον κοσμον ωστε τον υιον αυτου τον μονογενη εδωκεν ινα πας ο πιστευων εις αυτον μη αποληται αλλ εχη ζωην αιωνιον” (Ιωαννης 3:16)Keep up the good work!

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